Autonomia, Autoestima e Aprendizagem
A autonomia, segundo o dicionário Aurélio, significa, entre outras coisas: Faculdade de se governar por si mesmo; Liberdade
ou independência moral ou intelectual; Propriedade pela qual o homem
pretende poder escolher as leis que regem sua conduta. Portanto, como se viu, a autonomia está ligada à capacidade de escolha e de independência.
De acordo com Branden (1999), autoestima é a maneira como nós nos
enxergamos, nos sentimos; é o sentimento de valor e de competência pessoal e é a chave para o sucesso ou para o fracasso.
Autonomia e autoestima estão intimamente ligados. Para que um sujeito
seja autônomo ele precisa acreditar que é capaz de pensar, de agir, de
decidir, ou seja, ele precisa ter sua auto-estima elevada.
Aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos, que acontecem,
segundo a teoria piagetiana, mediante o processo de assimilação e
acomodação. Esse processo ocorre de forma ativa, isto é, o sujeito
precisa agir sobre ele próprio e sobre o objeto do conhecimento,
modificando a ambos.
Uma das características
do sujeito que sofre de problemas de aprendizagem é o não reconhecer-se
autor de seus pensamentos; por tal motivo os jovens que atendemos
costumam dizer: ‘acertei’ ou ‘adivinhei’, quando conseguem responder a
um cálculo matemático ou a alguma outra atividade onde seja explícito e
evidente que estão pensando (FERNÁNDEZ, 2002 p. 84).
Portanto, para uma criança com dificuldade na aprendizagem tornar-se
verdadeiramente autônoma, é preciso antes acreditar em si, em suas
capacidades.
Em geral, as crianças que sofrem com problemas de aprendizagem do tipo
sintoma tem baixa autoestima e quase nenhuma autonomia de pensamento.
Esse problema da baixa autoestima vem, na maioria dos casos, da dinâmica
familiar, do papel que a família, de forma inconsciente, atribui a esse
membro. Esse sujeito, por sua vez e também de forma inconsciente,
procura confirmar esse papel que lhe atribuíram, através do não
aprender.
A autoestima pode ser influenciada, em especial quando se ainda é
criança, pelo conceito que o adulto cuidador tem dela e que pode ser
transmitido através de palavras, de gestos ou de omissões e que pode ser
negativo ou positivo.
A autoestima está relacionada ao que o sujeito pensa com relação a ele
mesmo, independente do que outras pessoas possam pensar, pois ela está
dentro de cada um.
A conquista de uma autoestima positiva é fundamental para que as demais
conquistas da vida, como a formação de uma nova família e o sucesso
profissional, sejam vistos como vitórias, como situações felizes pois,
se caso a autoestima seja negativa, todas as demais conquistas parecerão
vazias, sem sentido e sem valor. Sobre o conceito de auto-estima,
Branden diz:
Ela
tem dois componentes: o sentimento de competência pessoal e o
sentimento de valor pessoal. Em outras palavras, a autoestima é a soma
da autoconfiança com o auto-respeito. Ela reflete o julgamento
implícito da nossa capacidade de lidar com os desafios da vida [entender
e dominar os problemas] e o direito de ser feliz [respeitar e defender
os próprios interesses e necessidades] (1999 p. 9).
A autoestima elevada faz com que a pessoa se olhe com admiração e
sinta-se hábil a encarar os desafios que encontra pelo caminho. O
sujeito se vê como alguém que tem valor e é merecedor de respeito dos
outros e de si próprio
Aos
interesses ou valores relativos à própria atividade, estão ligados de
perto os sentimentos de auto-valorização: os famosos ‘sentimentos de
inferioridade’ ou de superioridade. Todos os sucessos e fracassos da
atividade se registram em uma espécie de escala permanente de valores;
os primeiros elevando as pretensões do sujeito e os segundos
abaixando-as com respeito às ações futuras (PIAGET, 1967 p. 39).
As pessoas que não possuem uma elevada autoestima em geral são sujeitos
que passaram por muitas situações de fracasso ou de perdas e que acabam
por incorporar essas derrotas como algo evidente, como algo comum em
suas vidas, afetiva, emocional ou profissional. É preciso desconstruir
esse conceito negativo e esse pensamento de que o fracasso é ponto
consumado em sua vida pois somente assim ele renascerá um sujeito
saudável, que acredita em si, que encara desafios e que age
autonomamente.
De maneira sintetizada, pode-se dizer que a dificuldade de aprendizagem
e em especial a do tipo sintoma, sofre influências de questões
subjetivas como a baixa autoestima, por exemplo. Esse baixo
auto-conceito provocará, consequentemente, uma crença de que não é capaz
de tomar decisões acertadas e que, por isso, dependerá sempre do outro
para decidir qualquer assunto em sua vida.
O conceito que o sujeito formará de si próprio tem início no meio
familiar, com os primeiros cuidados feitos de forma a satisfazer as
necessidades físicas e emocionais do bebê, ou seja, cuidados
inicialmente feitos pela mãe (WINNICOTT,1989) que se adapta às
necessidades do bebê para que estes possam dar continuidade ao seu
desenvolvimento, que é a base da saúde mental do bebê, e que facilitará
ou não o seus aprendizados.
A aprendizagem é construída pelo sujeito a partir de seus conhecimentos
prévios num processo de assimilação e acomodação, onde a pessoa faz
relação entre os saberes anteriores e os novos, transformando a si
própria e aos novos conhecimentos, deixando-os mais complexos. Esse novo
aprendizado servirá de base para as próximas aprendizagens.
O aprendizado acontece de forma ativa, a ação é do sujeito aprendiz.
Uma pessoa com baixa autoestima sentirá dificuldade nessa autonomia,
nessa iniciativa, dificultando, assim, a aquisição de novas
aprendizagens.
Esse conceito negativo que um sujeito tem de si e que prejudica sua
autonomia e seus aprendizados pode ser modificado através de um trabalho
que vise, essencialmente, esse fim, como é o caso da psicopedagogia que
tem com principal meta formar autores de seus próprios pensamentos. A
maneira mais eficaz de ajudar a recuperar a autoestima de uma pessoa é
acreditando nela. “Essa questão de confiar na capacidade de aprender e
apostar nela, resgatar a identidade de ser gente, que um necessita para
bem viver. Só isso já é um impulso para o alcance que qualquer objetivo”
(FUCK, 1993 p.41). E claro, acreditar verdadeiramente. Essa atitude
positiva deve ser um dos princípios do trabalho de recuperação do
sentimento de valor próprio.
[ Texto com registro na Fundação Biblioteca Nacional ]
[ Texto com registro na Fundação Biblioteca Nacional ]
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