O modo como uma
criança se percepciona resulta, em larga escala, do que as restantes pessoas lhe
transmitem. A capacidade da criança realizar um julgamento eficaz de si e das
suas capacidades é reduzida, e depende das pessoas que lhe são significativas, e
que funcionam como "espelho", nos olhos de quem a criança se percepciona. Deste
modo, os pais são, geralmente, os principais "espelhos" da criança, e vão ter um
papel fundamental na forma como se percepciona, e confia nas suas capacidade.
Ao
termos consciência da importância que possuímos no desenvolvimento da
auto-estima da criança, importa reflectir sobre o que lhes estamos a transmitir.
Tal porque se, predominantemente, a criança receber reflexos positivos com maior
frequência, a sua auto-estima tenderá a ser alta. No sentido inverso, se recebe
com maior frequência feed-back negativo, tenderá a possuir uma imagem negativa
de si própria .
Cabe então aos
adultos a tarefa de valorizar o que de bom a criança realiza, as suas qualidade
e, mesmo nas actividades em que possuí mais dificuldades, transmitir-lhes a
esperança de serem bem sucedidas.
Quando existe uma
boa identificação parental, as crianças crescem tendo os pais como modelos a
seguir. Porém, pode ser difícil para uma criança acreditar que poderá ser um dia
como aquele ser perfeito que o pai e/ou a mãe aparenta ser. É muito salutar que
os adultos também admitiam quando cometem erros, e que o façam junto das
crianças. Elas também necessitam saber que os adultos não são perfeitos, tal
como ela (criança) não o é. Deste modo, os adultos podem ajudar a criança a
aprender que errar é natural, todos o fazem, não apenas ela, e que existe sempre
a possibilidade de, na próxima vez, procurarem melhorar.
O elogio serve
como uma poderosa ferramenta, ao serviço dos pais, no que se refere à
auto-estima da criança. O Elogio, atribuído quando a criança tenta realizar algo
(elogiar as tentativas, não apenas os sucessos), faz com que ela se sinta
importante, valorizada, e capaz de realizar novas conquistas. Além de permitir
que a criança acredite que é capaz de realizar algo que o adulto valoriza e
respeita, este sentimento de confiança em ser bem sucedida acompanha-a para o
resto da vida.
Deste modo, mesmo
quando o sucesso não for alcançado, o elogio pela tentativa, associado à
esperança que o adulto lhe transmite que da próxima vez poderá ser bem sucedida,
permite à criança acreditar em si e nas suas capacidades, ajudando-a a lidar com
as frustrações de forma mais eficaz. É importante que as tarefas a que a criança
se propõe sejam adequadas à sua faixa etária, para assim ter verdadeiras
hipóteses de ser bem sucedida. Assim, deve-se procurar estabelecer metas
realistas e adequadas à sua idade, dando à criança oportunidades de
desenvolver-se, sem incorrer no erro de protecção em excesso, nem de a
pressionar além das suas limitações naturais.
Os adultos podem
(e devem) igualmente promover a interacção social em diferentes contextos, e
fomentar o questionar e o exame de qualquer problema que seja levantado pela
criança. Existe valor em trabalhar com os interesses intelectuais espontâneos da
criança e, para o desenvolvimento moral dela, é igualmente valioso lidar com as
questões morais que surgem no dia-a-dia. As crianças fazem as perguntas com mais
significado que possamos imaginar, resta-nos estar atentos e, com ela, as
procurarmos aprofundar. Não com a postura de sabedores da verdade universal, mas
ouvindo os pontos de vista das crianças, expondo os nossos, explorando e
descobrindo em conjunto.
Ao contrário do
que frequentemente acreditamos, é possível envolver a criança na discussão e
partilha de questões morais. E é neste ouvir e partilhar de argumentos com
outras crianças e adultos que ela experiência desequilíbrios cognitivo, que a
levam a colocar em causa os seus conceitos e a conduzir a uma nova reorganização
dos mesmos. Este conflito (cognitivo) é fundamental para a reestruturação do
raciocínio e para o desenvolvimento mental.
Torna-se
necessário realizar um "aviso" sobre os típicos rótulos e etiquetas que
costumamos atribuir à criança: são de evitar. Como anteriormente referido, as
crianças procuram nos adultos significativos espelhos que lhes ajudem a moldar a
sua imagem. Essa imagem convém que seja positiva e, quando não o for, convém que
transmita sempre a possibilidade de mudança para melhor. Os rótulos não
transmitem a ideia de mudança e, ao invés disso, contribuem para que a criança
se percepcione e, por consequência, se comporte de acordo com os rótulos que os
adultos lhes transmitem. Se desde uma fase precoce da sua vida a criança
começa-se a identificar com apelidos como o de burra, preguiçosa, entre outros,
vai crescer a acreditar que o é.
A
lembrar:
◦ É importante
permitir às crianças a livre expressão dos seus sentimentos, mesmo os negativos.
Por vezes, desvalorizamos sentimentos muito fortes das crianças, com expressões
como "não se chora", ou "isso não é nada". Se a criança sente, é porque tem
razões para isso, e é importante validar esses sentimentos e permitir-lhe que os
partilhe connosco.
◦ Nem sempre é
possível mas, quando for apropriado, permita que as crianças tomem as suas
próprias decisões. Pode-se, por exemplo, pedir que opinem sobre questões como
onde ir passear, que actividade realizar, entre outras. Tal faz com que se senta
importante, valorizada e respeitada.
◦ Tal como os
adultos, as crianças também apreciam (e merecem) que respeitem os seus espaços e
limites. Expressões como "com licença" e "obrigado" podem ajudar a que a criança
se sinta confiante e respeitada.
◦ Ouvir as
crianças. Mesmo nos momentos em que sentimos pressa, é importante parar para
ouvir e valorizar o que a criança nos transmite. Quando tal não é possível, é
preferível explicar que será melhor falar sobre esse assunto mais tarde. Mas,
mal seja possível, aborde novamente a questão junto da
criança.
◦ Elogie-as com
frequência, mas quando e onde o merecerem. Os elogios são uma óptima ferramenta
para a construção da auto-estima, mas só quando atribuídos pelo mérito, e de
forma coerente. Mais do que o resultado, reforce o esforço da criança para ser
bem sucedida.
◦ É frequente em
nós, adultos, esquecermo-nos de que já fomos crianças, e de que a sua forma de
entender e percepcionar o mundo é muito diferente da do adulto. Procure
empatizar com a criança, e perceber como ela se sente em determinado momento.
Deste modo, será para nós mais fácil entender o seu ponto de vista e, assim,
lidar com ela.
◦ Partilhe com os
seus filhos os seus gostos, o que valoriza e o que ama.
◦ Enquanto modelo
para as crianças, transmita e seja entusiasta, positivo e
alegre.
◦ Ao reencontrar
o seu filho após um dia de trabalho, experimente perguntar pelas coisas boas do
seu dia, o que mais gostou, o que valorizou. De seguida, expresse-lhe igualmente
o que mais gostou do seu dia.
◦ É sempre
positivo interessar-se pelos pequenos êxitos das crianças, e "perder" alguns
minutos a elogiar as primeiras tentativas no caminho certo.
◦ O nosso
cansaço, muitas vezes resultado de um dia de trabalho, pode potenciar momentos
em que "descarregamos" nas crianças de forma descontextualizada e injusta. É
necessário avaliarmos o nosso estado e, quando necessário, recorrer ao parceiro
para que lide com determinadas situações, resguardando o adulto mais cansado (e
a criança).
◦ Esta é uma
verdade que deve ser aplicada para todas as crianças mas que, torna-se mais
relevante quando se trata de irmãos: o recorrer às comparações para repreender
ou fazer a criança ver qual o comportamento desejável não é uma boa estratégia
pedagógica. Não é positivo para nenhuma das crianças, e há sempre alguma que
fica prejudicada com a situação.
◦ Termina-se com
uma proposta: uma vez por dia (no mínimo), elogiar algo bem feito de cada
criança, com naturalidade e no momento em que a criança realiza o comportamento
alvo do elogio.